Um estudo publicado na revista Philosophical Psychology levantou novamente um antigo debate: o sofrimento animal. De acordo com pesquisadores da Universidade do Texas, em Arlington, mesmo que peixes não possuam algumas regiões cerebrais associadas ao desconforto por dores, não existem provas definitivas de que eles não sintam dor.

Muitos cientistas e filósofos debatem e se dividem a respeito do tema há anos, principalmente quando se trata de peixes. Estudiosos destacam o fato de os animais aquáticos não terem certas regiões corticais em seus cérebros associadas ao desconforto emocional da dor, ou “efeito doloroso”, não sendo possível então que eles sintam algo.

Entretanto, após a descoberta de receptores de dor em peixes no início do século 21, pesquisadores voltaram seus esforços para desenvolver experimentos comportamentais que começaram a sugerir a possibilidade de sensibilidade nos invertebrados.

“Afirmar que os peixes não sentem dor devido à ausência dessas regiões do cérebro pode ser o mesmo que concluir que eles não podem nadar porque não têm braços e pernas”, disse Phil Halper, principal autor do estudo e pesquisador independente na Grã-Bretanha.

Métodos e resultados

No artigo com nome de “Contra o Neo-Cartesianismo: Resiliência Neurofuncional e Dor Animal”, a equipe recorreu à neurociência contemporânea para refutar a ideia de que peixes não têm a capacidade de sentir dor. Para isso, foram examinados os danos anatômicos detalhados em vários estudos de indivíduos com lesões cerebrais para determinar se esses indivíduos ainda poderiam sentir dor.

Um desses estudos apresentou um paciente conhecido como Roger, que tinha regiões-chave do cérebro frequentemente associadas ao processamento da dor e que foram destruídas por doenças. A capacidade de Roger de sentir dor, no entanto, permaneceu intacta e, na verdade, ainda mais sensível do que a média. O que sugere então que essas regiões corticais não são necessárias para a dor ou que o cérebro pode ser capaz de compensar para garantir que funções essenciais, como o efeito da dor, não sejam afetadas e permaneçam intactas.

A descoberta apoia o que David Rudrauf, da Universidade de Genebra, na Suíça, e um dos autores do estudo, chama de “resiliência neurofuncional”, que é a capacidade do cérebro de se adaptar diante de traumas e adversidades, mantendo suas funcionalidades.

Para os cientistas, a pauta traz implicações importantes a respeito da causa animal e pode trazer benefícios para a sociedade se for usada para ajudar a orientar futuras políticas governamentais, ambientais e da indústria de alimentos, bem como decisões dietéticas pessoais.

Fonte: PHYS.ORG