Sentimos na pele os impactos do novo regime climático. Com isso, ganha relevância a necessidade de se trabalhar a alfabetização/cultura ecológica, considerando as conexões, contexto e interdependências entre todos os seres, entidades e ecossistemas. Nossa utensilagem mental antropocêntrica, calcada na fragmentação e simplificação, fortemente ancorada nos nossos modos de produção, consumo e estilo de vida, demora a entender e pensar saídas. Para além desse contexto social, a escola de educação básica ao lidar com crianças ocupa um lugar sensível de disputas de sentidos sobre parte dessas temáticas. O que é autorizado abordar, como abordar, com quais palavras, quando e quem deve falar, são questões que tensionam o ensino, dada as mais diversas compreensões das diversas famílias que compõem o universo escolar. Enquanto isso, vamos comprometendo a formação da atual e das próximas gerações que viverão de forma intensa as consequências da inércia e da falta de prontidão daqueles que as antecederam. Qual a margem de manobra temos para a atuação? O propósito deste artigo é fazer a articulação entre a denúncia (a partir daquilo que a Ciência e Ambientalistas há décadas vem alertando) e a proposição de oportunidades e alternativas de abordagem para o educador, relacionando-as com a vida, escolhas diárias e com os currículos escolares.

I SOBE O TOM!

A emergência climática em curso, pela sua escala planetária, é infinitamente maior em proporção e poder de destruição que qualquer outra experiência humana que conhecemos. O químico Paul Crutzen (2002) diz que nosso impacto pode ser identificado em escala geológica, daí a proposta do termo Antropoceno para designar que já entramos em outra era geológica. Essa é uma verdade estratigráfica, pois já é possível de se ver a pegada humana nas rochas. A Terra reage por meio dos eventos climáticos extremos. Gaia se contorce expulsando aquilo que a agride. Convivemos diariamente com recordes que nos dão uma noção da gravidade da situação e do comprometimento da capacidade do planeta em se recuperar.

O mês de março de 2024 é o 10º mês consecutivo mais quente já registrado na história, segundo relatório do Observatório Europeu Copernicus (Copernicus, 2024), publicado no dia 09 de abril deste ano. A temperatura média global é a mais alta já registrada, com os últimos 12 meses a situarem-se 1,58 °C acima dos níveis pré-industriais.

Gavin Schmidt, diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA está à frente do projeto que monitora as mudanças de temperatura desde 1880. Em um artigo jornalístico publicado na Revista Nature (Schmidt, 2024), ele admitiu:

É humilhante, e um pouco preocupante admitir que nenhum ano confundiu mais as capacidades preditivas dos cientistas do clima do que 2023. (…) Se a anomalia não estabilizar até agosto – uma expectativa razoável baseada em eventos anteriores do El Niño – então o mundo estará em território desconhecido. Isto poderia implicar que o aquecimento do planeta já está a alterar fundamentalmente a forma como o sistema climático funciona, muito mais cedo do que os cientistas previam.

Um movimento liderado por cientistas dos EUA, Austrália e África do Sul, a partir de um Relatório Especial na revista BioScience (Ripple, 2020), logo foi assinado por 14.700 cientistas de 158 países, defendendo a “obrigação moral” de cientistas em “alertar claramente a humanidade sobre qualquer ameaça catastrófica” e apresentar suas pesquisas para demonstrar “que o planeta enfrenta inequivocadamente uma emergência climática”. Quando a ciência usa a expressão inequívoca, falando para leigos, significa que o tema é incontestável, irrefutável. Todas as evidências advindas das mais diferentes áreas do conhecimento apontam para o mesmo lugar.

Parece que estamos anestesiados com tantas notícias, que mais se parecem com as tribulações do Apocalipse. Cada vez mais um novo estímulo precisa ser dado para que saiamos do estado de torpor e inércia. Começamos ouvindo falar de mudanças climáticas, aquecimento global, crise, emergência, colapso e, agora, ebulição climática. Reparem, o tom vai aumentando proporcionalmente à nossa incapacidade como humanidade de ouvir e responder. Subir o tom é uma tentativa dos cientistas, das organizações, dos ativistas e agora das grandes mídias em comunicar, sem rodeios, o que está acontecendo. Trata-se de acordar, pela palavra, aqueles que dormem.

A expressão “mudanças climáticas” perdeu força por ser considerada passiva, meiga demais para aquilo que estamos vivendo. Bate em nossos ouvidos que é papo de climatologista; é a natureza e “eu não tenho nada a ver com isso”, além de que, do lado de fora da minha janela, crianças brincam, as maritacas estão voando, os congressos estão focados na inteligência artificial e, daqui a pouco, vou para um aniversário. Vida que segue. A mensagem é: continue fazendo o que você está fazendo.

Agora, se a sua casa estiver pegando fogo com a sua mãe presa lá dentro, você não irá dizer que está havendo uma mudança da temperatura na sua sala. Você ligará para o Corpo de Bombeiros e esbaforido irá dizer que a sua casa está em chamas. É disso que se trata. Emergência é a sirene do corpo de bombeiros ou do SAMU que toca de forma estridente, furando sinal, passando na frente. Emergência é prioridade máxima e pede ação.

Essa mudança de tom aconteceu com alguns editoriais de jornais, como The Guardian (https://www.theguardian.com/environment/2019/may/17/why-the-guardian-is-changing-the-language-it-uses-about-the-environment) e BBC, (https://www.carbonbrief.org/exclusive-bbc-issues-internal-guidance-on-how-to-report-climate-change/) que em 2019, alteraram o manual de redação e a linha editorial, adotando palavras mais fortes, como forma de assumir e aceitar que estamos diante de um desafio de grandes proporções, que nos afeta em muitíssimos aspectos da vida cotidiana. Dicionários também estão se adequando. O britânico Collins elegeu a expressão “greve climática” e Oxford elegeu “emergência climática” como as palavras do ano de 2019. Essa última significa “uma situação na qual uma ação urgente é exigida para reduzir ou mitigar as mudanças climáticas e evitar um dano potencialmente irreversível ao meio ambiente”.

Vendo toda essa movimentação, precisamos nos perguntar quais as mudanças o campo da educação está efetuando. O que mudou na abordagem, nos currículos, nas formações, nas estruturas físicas das escolas, nos planejamentos dos professores? O que nós, educadores, reles mortais, podemos fazer? Em que estágio estamos?

II Dos gestos solitários às grandes mudanças coletivas.

Essa história de “gigantes Golias”, felizmente, tem muitos “Davis”. São muitos, contudo, farei menção a um exemplo que mais se aproxima da realidade escolar.

Não foram as mudanças nas palavras, que fizeram acordar os líderes mundiais, mas uma única e pequena estudante. Sem cargo, sem poder, sem dinheiro. Aos 8 anos, na escola (veja a importância da escola!), ela ouviu falar do que estava acontecendo no planeta e isso a impactou demais. Sofreu profundamente e se angustiou com tudo isso, mas em 2018, com 15 anos de idade, resolveu fazer greve escolar pelo clima. Sozinha, sentada no chão com o seu cartaz – School Strike for Climate -, nas sextas-feiras, “matava aula” na porta do Parlamento Sueco. Alguém fotografou, postou e essa imagem viralizou. Essa menina é Greta Thunberg. Seu ato individual, persistente e teimoso, chamou a atenção e mais e mais pessoas foram se unindo ao movimento – Fridays for future (sextas-feiras pelo futuro). Um ano depois, em setembro de 2019, uma greve global pelo clima ocorreu em 150 países, com mais de 5 mil protestos.

Uma única pessoa, aqui um educador ou um estudante, por mais frágil que seja dentro de um sistema, é capaz de atuar e mobilizar os demais para irem além. Ninguém deveria pensar que o seu gesto individual não muda nada. Muda sim! É uma pessoa a mais ajudando a criar as condições para que uma nova consciência ecológica e de mentalidade vá se constituindo. Por outro lado, mesmo que uma lei, um governo ou um sistema educacional venham a propor algo, sem que haja o engajamento dos indivíduos, muito pouco iremos avançar. De uma forma ou de outra, o indivíduo tem responsabilidades à medida que toma consciência da situação. Uma escola, uma rede de ensino, um ministro, um secretário da educação ou um diretor escolar, não podem mais se manterem alheios ao que está acontecendo. Estamos falando de décadas de conhecimento científico disponível. Pesa sobre cada um de nós, adultos, uma responsabilidade social e geracional, com quem está nos dias de hoje e com quem virá.

Reconhecemos que os adultos que hoje estão atuando nas escolas, ou estão na condição de pais e mães, e não foram alfabetizados ecologicamente, como então serão alfabetizadores? Podemos pensar que ninguém ensina aquilo que não acredita ou que não entende. Precisamos de estratégias sensíveis que utilizem a arte, imagens, argumentos e informações que nos mobilizem e convençam de que aquilo é urgente, relevante, necessário e imprescindível. Estamos falando de um conteúdo que, para além de definir nosso futuro no planeta, nos interpela, pois mexe com o nosso modo acomodado de viver, com a cultura, a tradição e opera em camadas mais profundas da nossa existência.

Mas, que desafios de grandes proporções a educação é chamada a ajudar a resolver? Qual a nossa contribuição? O que educadores precisam saber, estudar e aprofundar?

III O que não podemos mais ignorar?

Dos dez maiores riscos para a humanidade, nos próximos dez anos, cinco são riscos ambientais, segundo o Relatório de Riscos Globais (2024) desenvolvido pelo Fórum Econômico Mundial de Davos (World Economic Fórum, 2024), que coleta percepções de quase 1.500 especialistas globais. Segundo o relatório, “os riscos ambientais continuam a dominar o cenário de riscos”. Dois terços dos entrevistados classificam o clima extremo como principal risco e com a maior probabilidade de apresentar uma crise material em escala global em 2024, além de ser o segundo risco mais grave no período de dois anos. Os riscos ambientais dominam os quatros principais riscos globais por gravidade em um período de dez anos.

Quando falamos dos impactos dos eventos climáticos extremos é preciso marcar que eles afetarão diretamente os mais pobres e vulneráveis. A escola é atravessada fortemente pelos problemas sociais, políticos, econômicos e agora pelos ambientais. Tudo isso calibrado, para mais ou para menos, dependendo da região onde se mora, da cor da pele, da condição socioeconômica, gênero ou religião. É aqui que nascem expressões como racismo ambiental e injustiça climática, que também precisam ser incorporadas pela educação. Estudo publicado pela WayCarbon, em parceria com a organização Redes da Maré (Waycarbon e Redes da Maré, 2023), afirma que:

São as populações pobres, pretas e que habitam as periferias urbanas, as mais vulneráveis e as mais atingidas pelos extremos climáticos. E após a destruição, são as que mais têm dificuldades de serem reparadas pelo Estado.

De igual modo, o Relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e parceiros (WMO, 2021), intitulado – Estado do Clima na África 2020, indicam que até 2023, as estimativas revelam que, pelo menos 118 milhões de pessoas extremamente pobres no Continente estarão expostas à seca, inundações e calor extremo, o que impedirá o progresso em direção ao fim da pobreza. A injustiça climática se dá nesse caso pelo fato de a África produzir uma fração muito pequena das emissões globais de gases de efeito estufa.

Essa teia repleta de caroços e poucos laços repercutem fortemente nos sistemas de ensino. O sujeito da aprendizagem e da educação de que tanto falamos são meninas e meninos que já chegam até nós marcados por essas duras realidades. Mesmo sendo alguém com origem socioeconômica favorecida e com alto poder de compra, não é desejável que, por essas condições, sejam indiferentes ao que está acontecendo.

Por fim, a complexidade se agrava quando esses eventos são pareados com outros riscos apontados que são: informações incorretas, polarização social e política. Esse dado é o anúncio de possíveis turbulências e que a temática não terá uma entrada tranquila na escola. É necessário o embasamento científico, entendimento da faixa etária a que se destina o conteúdo, boas sequências didáticas e uma apurada pesquisa do material didático a ser ofertado. Trata-se de um conhecimento multidisciplinar e transversal que não se restringe às Ciências da Natureza. Esse será um esforço extra para muitos dos educadores, principalmente para aqueles que se mantiveram alheios até o momento.

IV Conexões presentes e ausentes

A cultura e educação ecológicas têm temas que são mais explorados pelas escolas. De certa forma, estão inscritos na Encíclica Laudato Si (Francisco, 2015):

É muito nobre assumir o dever de cuidar da criação com pequenas ações diárias, e é maravilhoso que a educação seja capaz de motivá-las até dar forma a um estilo de vida. A educação na responsabilidade ambiental pode incentivar vários comportamentos que têm incidência direta e importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias. (p.168, vrs.211)

Não podemos mais ignorar a forte interdependência entre todos esses fatores e variáveis, contudo, o que chega para os estudantes, muitas vezes também não tem contexto e eles não relacionam com a própria vida. Importantes as advertências de Edgar Morin (2002, p.29):

Hoje, a nossa necessidade histórica é de encontrar um método que detecte e não que oculte as ligações, as articulações, as solidariedades, as implicações, as imbricações, as interdependências, as complexidades.

Sendo assim e, com nossa visão mais alargada, traremos dois temas ausentes na pauta da educação. A Ecologia Integral requer um compromisso com a dimensão sagrada da vida, da natureza e do ser humano. Está implícito a vida em suas diferentes formas, ambientes e territórios e da preservação da biodiversidade. Há, contudo, uma dificuldade em encontrar a menção de outras vidas para além dos seres humanos, seja em nossos documentos, currículos ou nas discussões sobre sustentabilidade. O animal aparece sempre como recurso natural renovável. Será que somos os únicos habitantes e interessados na preservação do planeta, e com direitos de existir?

Falamos de biodiversidade e, precisamos falar mesmo, já que a ciência afirma que estamos na 6ª extinção em massa, a ameaça ambiental mais séria à civilização, por já estar em andamento e por ser irreversível. Michael Benton, paleontólogo que estudou a extinção no fim do Permiano, citado no livro – A sexta extinção, de KOLBERT (2015), utiliza uma metáfora para explicar o que é uma extinção em massa. Diz ele: “Durante uma extinção em massa, vários galhos da árvore são cortados, como se ela estivesse sendo atacada por homens brandindo machados” (s/p).

Segundo os pesquisadores, as espécies são elos nos ecossistemas e, à medida que caem, muito provavelmente levarão junto as outras espécies com as quais interagem. Já temos vários alertas de cientistas sobre a extrema urgência de ações globais maciças para salvar os sistemas cruciais de suporte à vida da humanidade.

Se por um lado extinguimos, do outro lado somos bizarros e criamos uma superpopulação artificial de animais para o consumo humano. A população brasileira é de 220,2 milhões de pessoas (dados do dia 24 de abril de 2024) e o Rebanho bovino brasileiro é de 234,4 milhões de animais (IBGE, 2023). Podemos dizer que temos a relação um para um no tocante a um boi para um habitante do Brasil. De qualquer forma, isso só é possível graças à voracidade com que avançamos para cima dos corpos dos animais, para atender as nossas demandas e caprichos ilimitados. Para esses, temos autorização legal, dada por nós mesmos, para avançarmos sobre seus corpos, territórios, ambientes, e, anestesia ética, para separamos os filhotes de suas mães, inseminar anualmente as fêmeas, sufocar ou macerar pintinhos machos que não “prestam” para a indústria do ovo, confinar e reduzir sua locomoção e assim, aumentar a sua produtividade e população. Persistimos, considerando as outras espécies como coisas passíveis da nossa exploração e domínio. Caminhamos para um planeta em que existirá somente nós e os animais que iremos comer. Se é que é sustentável um planeta assim.

Esse contexto nos leva a outras perguntas ignoradas: qual a relação dos sistemas alimentares e a emergência climática? O que seria o tema da nutrição do ponto de vista dos direitos humanos? A produção de alimentos tem relação direta com a degradação ambiental e a perda da biodiversidade, pois essas comprometem a resiliência dos sistemas alimentares.

Estudo inédito publicado pelo Observatório do Clima (2023), calcula em 1,8 bilhão de toneladas a emissão bruta de gases-estufa por sistemas alimentares. Isso representa 74% das emissões de gases de efeito emitidos pelo Brasil. Somente a cadeia da carne emite 1,4 bilhão, mais que o Japão. Em que momento nos perguntamos que cadeia produtiva é essa? Produz o quê? Como são seus processos? Alimenta a quem?

Levantamento feito pelo Observa Infância da Fiocruz (2023) que utilizou dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), demonstra que o Brasil está acima da média global e da América Latina, no tocante ao sobrepeso e obesidade, em crianças menores de 5 anos e adolescentes de 10 a 18 anos. A má alimentação também se apresenta na forma de sobrepeso, sendo um problema da pobreza (compro o que o dinheiro dá e quase sempre o disponível é de má qualidade nutricional) e do nível educacional. A pouca quantidade de nutrientes ou “fome oculta” ou “fome silenciosa”, afeta mundialmente cerca de 2 bilhões de pessoas.

A transição não é somente energética, ela é também alimentar. O que nós ensinamos sobre nutrição e alimentação em nossas escolas? Que modelos reproduzimos? Concordamos que não se deve direcionar as escolhas daquilo que as pessoas irão comer. A responsabilidade da escola é o ensino de qual nutrientes necessitamos para uma nutrição que traga saúde, disposição e vitalidade, e quais são as fontes de cada um deles, seja de origem animal ou vegetal.

V Considerações Finais

Vivenciaremos hoje, e não no futuro, mudanças rápidas nos sistemas de produção e consumo, na forma como lidamos com o solo, geramos energia, nos movemos, produzimos, moramos e, principalmente, como nos alimentamos. A crise climática, com tudo que ela carrega, traz para a cena novos conhecimentos que precisarão ser mobilizados, além de um novo jeito de viver. Projetos Pedagógicos que coloquem a vida em primeiro lugar, além de preparar nossos estudantes para esse mundo é uma questão ética e de honestidade intelectual.

Como esses assuntos podem entrar na pauta da escola? As temáticas são duras e áridas. Precisamos diferenciar o que é conhecimento que o professor precisa ter para dar boas aulas e aquilo que precisa chegar, com as devidas adequações, até a criança de 3 anos ao adolescente de 17. Não podemos receber e jogar sobre elas toda a carga de informação sobre a destruição do planeta, sem que haja um filtro e adequação. Isso é difícil e sério. Imagine uma criança de 8 anos tendo uma aula sobre o degelo do Ártico, a elevação do nível dos oceanos ou sobre outros eventos climáticos extremos. Podemos gerar a “síndrome da angústia ambiental”, expressão que tomo emprestada do livro Educação Ambiental, de Genebaldo Freire Dias. Enquanto concluo essa reflexão, o Brasil assiste atônito à tragédia no Rio Grande do Sul. Não é mais possível esconder essa realidade das crianças. Elas assistem. Elas são vítimas. Ao se depararem diariamente com notícias de agressão aos animais, às florestas e rios, instala-se em seus pensamentos a sensação de indignação e impotência, que ainda não sabem nomear e nem endereçar. Afundam no conteúdo da catástrofe.

Ainda podemos dar essa notícia preparando-as corretamente, com embasamentos científicos sistematizados, de modo a contemplar a maturidade e desenvolvimento. Digo aos educadores que revejam suas metodologias. Crianças precisam de encantamento ao observarem e estudarem os ciclos da natureza, suas estações, a diversidade de plantas e de animais, como vivem, quanto tempo vivem, como cuidam dos seus filhotes, o que cura, o que alimenta ou o que é veneno. Ao apresentar como deveria ser, elas passam a ter referências e memórias afetivas que serão acessadas quando necessário for, estranhar e questionar aquilo que é contrário à promoção da vida. A proposta é despertar nas crianças, jovens e adultos atitudes mentais e amorosas para que elas possam criar comunidades sustentáveis.

Data de autoria: 14 de maio de 2024

Referências

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SCHMIDT, G. (2024). Climate models can’t explain 2023’s huge heat anomaly – we could be in uncharted territory. Nature, 627, 467. 2024. <https://www.nature.com/articles/d41586-024-00816-z>. Acesso: 04/05/2024.

WAYCARBON, REDES DA MARÉ. Análise de Riscos e Vulnerabilidades Climáticas do Conjunto de Favelas da Maré. 2023 <https://www.redesdamare.org.br/media/downloads/arquivos/Analise_de_Risco_WayCarbon.pdf> . Acesso: 30/04/2024.

World Economic Forum. Global Risks Report 2024. <https://www.weforum.org/publications/global-risks-report-2024/> Acesso 08/04/2024.

WMO. State of the Climate in Africa 2020. 2021. <https://library.wmo.int/idurl/4/57682>. Acesso 07/05/2024.

Aleluia Heringer
Aleluia Heringer
Possui Doutorado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais ; Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais ; Especialista no Ensino da Educação Física (PUC-Minas) e graduação em Educação Física pela Universidade Federal de Minas Gerais . Atualmente é diretora de unidade – Colégio Santo Agostinho – Contagem.