Como pesquisadora de doenças virais que trabalha há dez anos com coronavírus felino, questiono a afirmação resultante de um estudo sobre a suscetibilidade de gatos à SARS-CoV-2 de que a vigilância da doença em gatos deve ser considerada como “um complemento à eliminação de COVID-19 em humanos ”(J. Shi et al. Preprint em bioRxiv http://doi.org/drbw; 2020). Como pode-se observar, o estudo não foi revisado por pares e houve limitações em seu projeto experimental (consulte Nature http://doi.org/ggq7wp; 2020). A alegação dos autores provocou graves preocupações na comunidade veterinária de que isso poderia levar à perseguição desnecessária de gatos.
Além disso, os autores mencionam a coleta de amostras por swab nasal – normalmente um procedimento simples – era impossível por causa do comportamento “agressivo” dos gatos. Na minha opinião, isso indica uma desconsideração do bem-estar animal básico, que não deve ser esquecido na pressa de gerar insights sobre a pandemia do COVID-19.
Os pesquisadores também têm a responsabilidade de não divulgar prematuramente resultados controversos com implicações de longo alcance. O Brasil, por exemplo, possui uma população de 22 milhões de gatos e está entre as maiores populações do mundo, e o abandono em massa de gatos seria catastrófico. Essa responsabilidade científica e social é primordial durante uma pandemia mortal, quando mesmo as informações menos sólidas podem ser capturadas, amplificada e distorcida nas mídias sociais.
Fonte: CRMV-MG
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