Quando o burburinho das multidões deu lugar ao silêncio da pandemia, ele se tornou uma espécie de jardim secreto do Rio. Longe dos olhos do público, plantas e animais fervilharam no Jardim Botânico, que permaneceu fechado de 17 de março a 9 de julho e agora reabre aos poucos, com hora marcada pelo site para visitação.

Os sinais de que a natureza soube aproveitar a reclusão dos homens estão por todos os cantos e se tornaram uma nova atração. Surgem estampados em verde no limo que cobriu os bancos de um tom que só a natureza dá. Brotam do laranja das orelhas-de-pau, um fungo que parece disfarçado de folha.

Se o distanciamento social não nos deixar tocar as pessoas, as árvores estão ali, troncos abertos, para abraçar, consolar. É o que faz gente como Rafaela Gontijo, visitante assídua, que busca na samaúma, que saúda com um abraço, a energia para tocar a vida.

Presença rara

Até um arredio casal de cachorros-do-mato se atreveu a deixar a segurança da vizinha Floresta da Tijuca e continua a ser visto. Pela primeira vez, eles tiveram seu encontro flagrado, numa alameda forrada por frutas maduras no chão. Evento raríssimo, conta o biólogo Marco Massao Kato, especialista na fauna do Jardim.

Seja nas ninfeias floridas do lago maior ou nas muitas aves, como tucanos e colibris, o Jardim Botânico está como o descreveu Clarice Lispector: “Tudo se dava por inteiro ao vento, no ar, à vida, tudo se erguia em direção ao céu. E mais: dava também o seu mistério.”

Fonte: O Globo