Apesar de ter pequeno porte, o casal de dachshunds George e Peppa costumava comer tudo o que aguentasse, de polenta a pães, biscoitos e até a sopa da família. Depois de alguns anos, George passou a ter falta de ar nas caminhadas e a travar, ofegante.

“Fizemos tudo que é exame, mas não dava nada”, conta Ana Rita Goldoni Corrêa, a tutora do casal. Ela só se deu conta da obesidade quando, durante um passeio, uma pessoa perguntou se George estava “grávido”. “São comilões, uns sacos sem fundo. Antes dávamos tudo”, conta.

Mas a vida gastronômica do casal de gordinhos de 6 anos mudou, e os dois ganharam um tratamento com uma nutricionista pet.

Veterinária e nutróloga no Hospital Petcare, em São Paulo, Mariana Porsani colocou os dois na linha com dieta adequada. George perdeu 3 kg, e Peppa, 1 kg, o que faz diferença em cachorros pequenos. O animal tem que emagrecer de forma saudável, não rapidamente.

O ideal é de 1% a 2 % do peso por semana. Mais do que isso não é interessante e pode voltar a engordar”, conta a veterinária.

Até a expectativa de vida aumenta. “Quando obesos, os animais podem perder quase dois anos de vida. Tutores só costumam buscar ajuda quando outra doença aparece, começam a mancar, têm doenças respiratórias, entre outras”, completa a especialista.

Mariana lembra que, assim como para os humanos, não existe milagre. O negócio é restrição calórica e atividade física para acelerar o metabolismo.

“As esteiras na água são excelentes pois têm menos impacto nas articulações. O cachorro fica de 20 a 30 minutos caminhando. Colocar em creche também ajuda, pois lá eles brincam com outros animais”, aconselha. Acupuntura é outro recurso para ajudar, mas, sem dieta, não funciona.

Olho no menu

O ideal é incluir legumes menos calóricos, como chuchu, e usar comedouros com labirintos e obstáculos, para o animal comer mais devagar, além de dar ração específica para obesidade.

Hoje, a tecnologia já desenvolveu rações não só menos calóricas, como também inteligentes, que ajudam na saciedade em menor quantidade.

“Croquetes (grãos) mais aerados resultam em um alimento um pouco maior, que estimula a mastigação e retarda a ingestão. Ainda é rico em proteína, o que ajuda na manutenção da massa muscular e requer um gasto calórico maior do organismo, tem muita fibra, minerais e equilíbrio de vitaminas”, explica Natália Lopes, Gerente de Comunicação Científica da Royal Canin.

Natália lembra que é interessante também apostar no “mix feeding”, a mistura da pasta com grãos, ambos específicos para gordinhos. “O alimento úmido tem uma concentração maior de água e atua como um importante diluidor calórico e reforço hídrico”, completa.

Questão de vida

Só na cidade de São Paulo, mais de 40% dos cães apresentam sobrepeso e obesidade. O resultado faz parte de uma pesquisa inédita da USP (Universidade de São Paulo) com a Royal Canin. O levantamento mostra ainda que 63% dos entrevistados subestimaram a condição corporal de seu cão e 80% deles não foram capazes de identificar o sobrepeso e a obesidade no bicho.

O endocrinologista pet Raoní Canal, veterinário da clínica SPet junto a Cobasi Butantã, em São Paulo, conta que entre os problemas sérios que o animal pode desenvolver estão doenças cardiovasculares, crises alérgicas e alterações respiratórias.

“Isso compromete a qualidade de vida e pode levar o cão à morte, especialmente em raças braquiocefálicas (com focinho curto), como pugs e bulldogs. Ficar no peso ideal pode salvar a vida dos pets”, completa.

Ladra de comida

A pesquisa mostra ainda que 52% dos gatos apresentam sobrepeso ou obesidade. Nutrição inadequada, pouca atividade física e predisposição genética contribuem para aumentar os riscos.

Para a gatinha Frida, de 9 anos, o sobrepeso veio depois da castração. Embora essa cirurgia simples seja essencial para a boa saúde, controle de natalidade e melhor comportamento dos pets, é preciso regrar a alimentação após o procedimento, pois todos tendem a engordar.

Para a gatinha Frida, de 9 anos, o sobrepeso veio depois da castração. Embora essa cirurgia simples seja essencial para a boa saúde, controle de natalidade e melhor comportamento dos pets, é preciso regrar a alimentação após o procedimento, pois todos tendem a engordar.

“Depois da cirurgia, ela passou a roubar comida, abria os pacotes da dispensa, pegava tudo o que podia. Ficou obesa e entramos com o tratamento”, conta a tutora Rebekka Samson.

Frida faz dieta rígida da Dra. Mariana. Hoje, toda ração é rigorosamente pesada, o pote de comida foi trocado pelo modelo labirinto, que tem obstáculos, e, em todas as refeições, foi incluído um ingrediente bem simples: chuchu.

“Faço purê de chuchu cozido e incluo em tudo. Isso a deixa mais satisfeita, sem vontade de assaltar nosso armário de comidas. Também a separamos dos outros animais na hora de comer, assim fica mais tranquila”, conta a tutora.

Perigo para os bichanos

De acordo com o endocrinologista pet Raoni, gatos são ainda mais sensíveis ao sobrepeso e perdem vários anos de vida com as doenças que podem aparecer.

“Nestes animais, a gordura age como um tecido endócrino e pode produzir substâncias inflamatórias. Acarreta alterações sistêmicas, como hipertensão e doenças cardiovasculares, bem como resistência insulínica e diabetes. Esses animais devem ter corpos leves, pois o excesso de peso impacta em seu sistema locomotor, gerando artrose e dor”, completa.

Ele conta que a obesidade em cães age de forma similar à dos gatos, com a produção de substâncias inflamatórias. “O paciente obeso é um animal inflamado”, diz.

Como identificar

Para quem está na dúvida se o pet é obeso ou só fofinho, aqui vai um truque do especialista para o diagnóstico de quem está acima do peso.

“A cintura e as costelinhas são bons parâmetros. A cintura deve estar marcada, tanto no cão quanto no gato. Precisa haver um afunilamento. Já as costelas devem ser visíveis e palpáveis em animais saudáveis”, aconselha.

FONTE: UOL