Maior produtora de ovos do país vai investir R$ 100 milhões na construção de duas novas granjas

“Sei que vão dizer que estou louco, mas o futuro não é mais de galinha em gaiola”. À frente da mineira Mantiqueira, maior granja de ovos do país, o empresário Leandro Pinto acredita que galinhas mais livres – e felizes – são também rentáveis e adequadas ao espírito do tempo.

Pioneiro na década de 1990 na construção de granjas automatizadas, quando o ovo só é manuseado pelo consumidor, o empresário agora anuncia o compromisso de nunca mais erguer galpões nos quais as galinhas ficam em gaiolas, um sistema de produção tradicional que é alvo de campanhas de entidades que defendem o bem-estar animal.

Em entrevista ao Valor, o empresário revelou que a Mantiqueira investirá cerca de R$ 100 milhões para construir duas novas granjas livre de gaiolas, em Lorena (SP) e Campanha (MG). O plano é que, até 2025, um terço da produção de ovos da empresa esteja sob esse modelo. Esse é também o prazo dado por redes como o McDonald’s para deixar de comprar ovo de galinhas engaioladas.

Em Lorena as obras começaram. A previsão é que a unidade fique pronta em 2021. Na sequência, a Mantiqueira iniciará a construção da granja no município mineiro de Campanha, disse Pinto. No médio prazo, a companhia também pretende ter outra granja no Paraná. Neste caso, porém, o terreno ainda não foi comprado e a cidade onde a planta será erguida não está definida, acrescentou o empresário.

Com foco em sustentabilidade, o projeto será financiado por uma linha de “crédito verde”. De acordo com o fundador da Mantiqueira, um contrato de financiamento de R$ 50 milhões foi fechado ontem com o Itaú BBA. A taxa de juros do financiamento poderá ser reduzida, a depender do cumprimento de metas de sustentabilidade. No projeto desenhado para a unidade de Lorena, a Mantiqueira também vai neutralizar as emissões de CO2.

A logística dos ovos que sairão de Lorena foi projetada para um mundo de investimentos mais orientado aos critérios ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês), afirmou Pinto. O transporte será feito com caminhões elétricos ou movidos a biogás – neste caso, o combustível será produzido a partir de dejetos das galinhas poedeiras. Em 2021, a Mantiqueira contará com cinco caminhões fabricados pela Volkswagen. Até 2025, o número de veículos de transporte deve chegar a 50.

Com capacidade para alojar cerca de 10,5 milhões de galinhas poedeiras nas quatro granjas que estão em operação, a Mantiqueira é capaz de produzir 2,5 bilhões de ovos por ano. Embora seja a maior do setor, a companhia fundada em 1987 detém uma fatia pequena do mercado nacional – cerca de 5% -, que é bastante pulverizado. Em 2019, o país produziu mais de 55 bilhões de ovos, um recorde, de acordo com as estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Das granjas que a Mantiqueira já possui, apenas uma, em Cabrália Paulista, é dedicada à produção sem o uso de gaiolas. Na cidade do interior paulista, a companhia aloja cerca de 500 mil galinhas. De lá, saem os ovos para empresas como a fabricante italiana de massas Barilla, que já deixou de comprar o produto de aves criadas em gaiolas. Nas vendas a empresas de massas, a Mantiqueira processa ovos em sua fábrica de processados em Uberlândia (MG), pasteurizando os produtos, negócio que representa 10% do faturamento do grupo – o montante é guardado a sete chaves.

Quando a planta de Lorena entrar em funcionamento, em meados do ano que vem, serão mais 700 mil aves poedeiras livres de gaiolas, totalizando 1,2 milhão de aves. A segunda granja, em Campanha, terá a mesma capacidade. Mas há uma diferença entre a tecnologia adotada em Cabrália Paulista e as unidades que serão construídas.

Antes de lançar o projeto, Pinto visitou a Alemanha, onde há granjas do gênero. Segundo o empresário, as unidades serão “4.0”, dotadas de sensores que acompanharão indicadores como temperatura, sede e alimentação das aves. A colheita dos ovos será totalmente automática, o que hoje só ocorre nas granjas com gaiolas.

Questionado sobre os preços do produto que será feito em Lorena, o empresário evita projeções. Segundo ele, o ovo será premium não somente pelo modelo de criação, mas também pela ração enriquecida com ômega 3 e selênio, entre outros.

Ele reconhece, no entanto, que o ovo de galinhas livres de gaiolas é mais caro. Atualmente, o produto não enriquecido feito em Cabrália Paulista custa, em média, 40% mais do que o ovo comum. Com o tempo, porém, o produto acabará se democratizando, acredita o empresário. Afinal, o espaço das gaiolas tende a ficar para trás.

Na Mantiqueira, ainda não há planos para a conversão das granjas que funcionam com gaiolas. O empresário argumenta que é a partir delas que a companhia possui poder de fogo para investir nas granjas do novo tempo. A transição, no entanto, chegará, ainda que em um prazo mais dilatado, disse.

Foodtech sem ovo

Maior produtora de ovos do país, a Mantiqueira também está de olho no mercado de veganos e “flexitarianos”, aqueles que optam por evitar o consumo de proteínas animais em alguns dias da semana.

A companhia mineira lançou no ano passado uma startup, a N.ovo, para alternativas à base de plantas. O primeiro produto, um ovo em pó feito a partir de ervilha, pode ser usado na preparação de bolos e outras receitas.

Ontem, a Mantiqueira anunciou a ampliação do portfólio de produtos de sua foodtech. A partir de 2021, estará disponível nas gôndolas uma versão plant-based para o preparo de ovos mexidos e omeletes veganos.

Outro lançamento, que chega a São Paulo neste ano, é a maionese sem ovo e livre de transgênicos. Feito em três sabores – natural, lemon pepper e ervas -, o produto é preparado a partir de amidos de batata, milho e óleo de girassol.

A startup N.ovo foi idealizada por Amanda Pinto, filha do fundador da Mantiqueira. A sede da foodtech fica na capital paulista, no Habitat, um coworking de inovação do Bradesco.

Fonte: Valor Econômico
Autor: Luiz Henrique Mendes

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