Cientistas conseguem medir importância que animais selvagens têm nos ciclos biogeoquímicos
Tecnologias modernas de sensoriamento remoto e conjuntos de espécies saudáveis em seus ambientes, desde as savanas até as florestas tropicais. Segundo um grupo internacional de pesquisadores, entre eles o cientista brasileiro Mauro Galetti, da Unesp em Rio Claro, esta pode ser uma receita que vai ajudar na mitigação das mudanças climáticas globais. Os cientistas, que publicaram os seus resultados na revista Science, conseguiram medir a importância que os animais selvagens têm na natureza em termos de absorção, emissão ou transporte de carbono.
O carbono, apesar de ser um elemento natural, é o grande vilão do século 21. A maior emissão de dióxido de carbono na atmosfera, por causa principalmente das atividades humanas, estão aumentando as temperaturas médias do planeta, segundo milhares de estudos internacionais publicados na última década. Por isso, entender todos os processos que envolvem o carbono na atmosfera passa a ser vital para que políticas públicas de mitigação ao aquecimento global planetário possam surtir efeito.
Os dados gerados pelo time científico liderado por Oswald J. Schmitz, da Yale School of Forestry and Environmental Studies, mostrou que a presença dos animais em determinados ambientes naturais pode aumentar ou diminuir as taxas dos processos biogeoquímicos entre 15% a 250%, ou até mais.
“Algum de nós estiveram dizendo por um longo período de tempo que não é apenas a abundância dos animais que importa. Mas o que estes animais fazem também é muito importante”, afirma Schmitz, professor de Ecologia em Yale. “Nós, agora, finalmente, chegamos ao ponto em que existem fortes evidências para embasar estas ideias”, diz o pesquisador.
Análises experimentais e feitas por meio de observação no campo mostraram que alterações na abundância dos animais pode causar grandes mudanças na capacidade dos ecossistemas no armazenamento ou troca de carbono. Em alguns casos, estas mudanças, em um mesmo ecossistema, faz com que este ambiente mude seu status. Em vez de ser uma fonte de carbono para a atmosfera, quando a população animal não é abundante, ele passa a ser uma região que fixa o carbono, quando os animais são abundantes.
Nas florestas tropicais, casos da Mata Atlântica ou da Floresta Amazônica, a conservação de grandes mamíferos mantém vigorosos os serviços ambientais destes ecossistemas, incluindo a dispersão de sementes pelos animais frutíferos e o suporte da produção de plantas pelos herbívoros, o que propicia a fixação de carbono. Um dos estudos que alimentou a pesquisa mostrou que o incremento de 3,5 vezes de espécies de mamíferos em uma região fez a retenção de carbono aumentar em até 400% na mesma região.
A pesquisa publicada na Science levanta um desdobramento importante em termos da presença humana nos ambientes naturais da Terra. Por meio da caça, da sobrepesca, da introdução de espécies não nativas e da destruição das florestas, o homem está definitivamente reduzindo o tamanho das populações selvagens.
“Se quisermos entender como é o nosso impacto sobre as populações animais e a influência destes processos sobre os ecossistemas e os fluxos do carbono, precisamos de ferramentas que nos levem a entender as últimas consequências do papel que os animais têm nos ciclos biogeoquímicos”, afirma Chris Wilmers, professor associado de Ecologia e Mudanças Climáticas na Universidade da Califórnia, em Santa Cruz.
De acordo com os cientistas que participaram do estudo, os resultados também indicam que os tomadores de decisão precisam considerar nas políticas públicas o uso de processos ecológicos na recaptura e armazenamento de carbono atmosférico. “Nossa mensagem é que este processo pode ser um ganha ganha. Em termos de conservação da biodiversidade e armazenamento de carbono”, afirma Schmitz.
Fonte: Envolverde
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