A vereadora de Belo Horizonte, Duda Salabert, estreia em 27 de fevereiro como nova colunista do Jornal Nexo, no espaço de opinião ‘Tribuna’. Ela indica cinco livros para repensar a relação com o meio ambiente.

Libertação animal – Peter Singer (Martins Fontes, 2010)

Desde sua publicação na década de 1970, essa obra encontra-se na centralidade dos debates sobre bioética. Em suas páginas, o filósofo australiano descortina os motivos históricos que levaram os seres humanos a considerarem-se superiores aos outros animais. Para desenvolver sua posição em defesa dos direitos ambientais, Peter Singer retrata como se desenvolve na nossa sociedade o especismo: lógica de dominação, de exploração e de escravização de animais e espécies julgadas inferiores pelos seres humanos. Essa crença de que a espécie humana é moralmente superior às demais sustenta no interior da sociedade capitalista o uso e a exploração de animais nas indústrias alimentícia, têxtil, cosmética, farmacêutica e de entretenimento. Tal lógica, além de causar dilemas na esfera da bioética, vem contribuindo para o agravamento do cenário das crises sanitária e socioambiental do mundo contemporâneo. Nesse sentido, a leitura de Peter Singer é fundamental para repensarmos nossas relações com os animais e com o planeta, uma vez que as últimas pandemias (e possivelmente a atual) foram consequências da forma nociva com que nos relacionamos com o meio ambiente.

Meio ambiente e representação social – Marcos Reigota (Cortez, 1995)

A educação ambiental pode e precisa desempenhar um papel relevante nos cenários ecológico, político e social. Para a prática dessa educação, no entanto, algumas perguntas pedem para ser respondidas, entre elas: “o que é meio ambiente?”. Marcos Reigota, pós-doutor pela Universidade de Genebra, nesta obra indicada, discute se “meio ambiente” é um conceito científico ou uma representação social e traz para o debate concepções ambientais importantes de ecólogos, geógrafos, psicólogos e filósofos. Na obra há reflexões sobre a educação ambiental como ferramenta política voltada para cidadania, para autonomia, para justiça social e para o combate às formas destrutivas de exploração dos recursos naturais em uma sociedade capitalista. Reigota faz ainda uma análise sobre a necessidade de a América Latina redesenhar seu projeto de desenvolvimento e de educação, buscando, assim, a sustentabilidade dos seus recursos naturais, da sua economia e dos seus cidadãos.

Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico – Isabel Cristina de Moura Carvalho (Cortez, 2012)

Nessa obra, é desenvolvido o conceito de sujeito ecológico como uma figura que encarna um ideário de responsabilidade, de compromisso e de solidariedade com o meio ambiente. Esse arquétipo pode ser assumido por pessoas, por grupos ou por instituições cujas práticas são moral e ecologicamente admiráveis. Ao desenvolver o conceito, a autora desnuda a importância de os educadores ambientais terem identificação não apenas profissional mas também pessoal com as questões socioambientais. Nesse sentido, os educadores e professores que corporificam a categoria de sujeitos ecológicos são aqueles que, além de propagar conceitos científicos, cultivam ideias e sensibilidades ecológicas em suas práticas pedagógicas. O sujeito ecológico, dessa forma, possibilita o aprendizado não apenas nos conteúdos lecionados, mas também no seu modo de ser, de pensar, de questionar e de se relacionar com a sociedade e com o meio ambiente. A obra faz também um histórico do movimento ecológico no Brasil, retrata os desafios da educação ambiental e traça um panorama dos conflitos socioambientais. É um livro importante para professores, coletivos e políticos que buscam não somente propagar mas também praticar a importância de preservar o meio ambiente.

A ecologia de Marx: materialismo e natureza – John Bellamy Foster (Civilização Brasileira, 2005)

Na obra há a investigação do papel ambiental dentro do pensamento revolucionário de Marx. Para desenvolver esse estudo, John Bellamy Foster resgata autores como Epicuro, Bacon, Darwin e retoma conceitos importantes dentro do marxismo, como o de “falha metabólica” no sistema de produção capitalista. Em seis capítulos densos, o livro apresenta reflexões político-ambientais que, na minha perspectiva, deveriam nortear o debate e as construções dos programas econômicos dos campos da esquerda na América Latina. A leitura dessa obra é interessante para desmistificar a falsa ideia de que Marx não se preocupou com questões ecológicas. Quando terminamos a leitura, percebemos que o pensador alemão não somente pensou o meio ambiente como também construiu conceitos relevantes que ajudam a entender a relação de alienação dos seres humanos com a natureza.

Introdução aos direitos dos animais – Gary L. Francione (Unicamp, 2015)

Nessa obra, há o debate sobre a necessidade de pararmos de tratar os animais como objeto, como propriedade, como recurso. Um conceito relevante desenvolvido pelo professor de direito e de filosofia Gary L. Francione para analisar as relações entre seres humanos e animais não-humanos é o de “esquizofrenia moral”, no qual condensa a ideia de que ainda que socialmente se considerem os interesses dos animais como tendo alguma relevância moral, tais interesses sempre foram e são desconsiderados quando geram conflitos com as vontades humanas. É importante destacar que o professor não defende que tratemos da mesma forma animais e humanos, mas sim que respeitemos o direito mais básico dos animais: o de não ser propriedade alheia. Nesse sentido, os animais precisam ser tratados como sujeitos de direito e devem, portanto, ter o direito de não ser explorados, coisificados ou escravizados pelos humanos.

Fonte: Jornal Nexo