A visão aguçada é uma arma de sobrevivência para as aves de rapina. Mas, há quase dois anos os olhos de “Menininha” só viram dor e superação. Essa jovem carcará resgatada da área impactada pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, foi reabilitada e nesta semana pode enxergar de novo a liberdade.
Até o fim de setembro, 39 animais silvestres impactados pelo rompimento, encontrados em áreas de obras ou que estavam em situação de risco nas comunidades próximas, foram devolvidos à natureza depois de serem cuidados e reabilitados pelo Plano de Proteção à Fauna desenvolvido pela mineradora Vale.
Os animais também sofreram os impactos do maior desastre com rompimento de barragens do Brasil, ocorrido em janeiro de 2019, em Brumadinho, deixando 270 mortos, sendo que 11 corpos ainda são procurados pelos Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG).
“Menininha” ganhou o nome da equipe de veterinários e biólogos do Instituto Pro Raptors, parceiro da Vale na reabilitação do animal. A reintegração se deu após autorização do Instituto Estadual de Florestas – IEF, um ano e cinco meses após ser entregue na Fazenda Abrigo de Fauna (FAF), criada pela Vale para o acolhimento dos animais domésticos e silvestres em janeiro de 2019.
A ave foi vítima de maus-tratos e resgatada pela Defesa Civil de Brumadinho com as asas cortadas e as penas quebradas, infestada de piolhos e sem poder voar. Para ser solto, o animal passou por exames laboratoriais e recebeu uma alimentação balanceada para auxiliar na recuperação física e comportamental. Foram realizadas atividades para capacitação muscular, com estímulo de voos curtos e prolongados e reforço em aprendizagem de predação.
Um recinto precisou ser especialmente criado para a reabilitação do carcará, com 20 metros de diâmetro (em torno de 400 metros quadrados). Foi erguido no local de soltura para promover e facilitar a ambientação e a interação com outros indivíduos de vida livre.
“Todos os animais trazem consigo uma história, que orienta os cuidados aplicados, os prazos de permanência e, por suas características, o tipo de reabilitação e soltura. Nesse caso, foi necessário um longo processo de reabilitação. A ave estava com a saúde bastante debilitada e pela maneira com que foi encontrada pode ter sido mantida em cativeiro, o que é proibido por Lei”, afirma a analista de meio ambiente da Vale, Cristiane Cäsar, que é PhD em comportamento animal.
Outros 21 animais ainda estão abrigados aguardando autorização para destinação ou em processo de reabilitação. Entre as espécies estão três cágados, um teiú, um gambá e uma pomba. A maioria das aves abrigadas em 2019 foi encaminhada para o Criatório Científico para Fins de Conservação Fazenda Cachoeira, onde estão sendo reabilitadas pela Loro Vet Consultoria Veterinária, instituições parceiras da Vale.
Isso ocorre, por exemplo, com 13 pássaros de diferentes espécies como rolinha-roxa, fogo-apagou, maritacas, tico-tico, trinca-ferro, azulão e canário-da-terra-verdadeiro, que estavam em cativeiros ilegais, a maioria em gaiolas, e em más condições de saúde e sem penas.
Para que os animais possam voltar à natureza, além dos cuidados com a saúde, foram formados grupos sociais com outros animais das mesmas espécies provenientes de CETAS (Centros de Triagem de Animais Silvestres), treinamento anti-predação e enriquecimento ambiental para simular o ambiente natural.
Desde o resgate dos animais, ao cuidado e preparação para a reintegração à natureza, o trabalho envolve a participação de um efetivo de mais de 200 profissionais, entre biólogos, veterinários, engenheiros ambientais e auxiliares de campo.
A Vale informa que mantém a Fazenda Abrigo de Fauna, em Brumadinho, para identificação, cuidado e abrigo de animais domésticos e silvestres das áreas atingidas, tendo recebido cerca de 1.400 animais, desde sua implementação.
“O tratamento e cuidado desses animais é feito seguindo uma série de protocolos sanitários e de manejo recomendados pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRVM), pelo Conselho Federal de Biologia (CFBio), pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e órgãos ambientais competentes (IMA, IEF, IBAMA) e auditados por empresa independente designada pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais”, informa a empresa.
Fonte: Estado de Minas
Foto: Divulgação/Vale
Entenda o caso
O trabalho realizado pela empresa VALE é decorrente das obrigações assumidas em Termo de Ajustamento de Conduta firmado com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio da Coordenadoria Estadual de Defesa da Fauna (CEDEF).
O termo estipula as medidas que competem à VALE para a proteção integral dos animais domésticos e silvestres situados nas manchas de inundação das estruturas da empresa.
Além das medidas de resgate e de reabilitação dos animais, o compromisso firmado tem o objetivo de concretizar planos de fauna que contenham medidas a serem adotadas pertinentes com cada nível de emergência atestado nas estruturas de barragens da empresa.
Todos os trabalhos realizados tem como parâmetro a concretização do bem-estar animal e a satisfação de suas liberdades. A adoção de protocolos específicos de tratamento de leishmaniose, enriquecimento animal, adoção, reintegração e esterilização são alguns exemplos das ferramentas utilizadas.
A CEDEF acompanha todas as ações pertinentes a fauna atingida pelos rompimentos de barragem para garantir que todas as cláusulas pactuadas sejam efetivamente cumpridas.
Acesse o TAC Fauna.
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