Antes mesmo de notarem qualquer sinal da avalanche de lama que estava a caminho, muitos sobreviventes da tragédia em Brumadinho (MG) contaram que repararam no comportamento estranho de cachorros, galinhas ou vacas. Os animais que estavam próximos à barragem da Vale serviram como um “alerta” do que iria ocorrer.
Há uma explicação para isso: os bichos, de fato, sentem antes eventos como o rompimento que devastou a região e matou 134 pessoas (até o fechamento deste texto) porque possuem sentidos mais aguçados –num nível que os humanos não possuem.
“A barragem não rompe de uma vez só. Ela tem movimentos anteriores ao rompimento completo. Esses movimentos geralmente emitem sons ou muito baixos ou infrassom, que é uma frequência abaixo do que o ouvido humano consegue ouvir”, explica Carlos Alberts, professor de zoologia e comportamento animal da Unesp (Universidade Estadual Paulista):
“Muitos animais conseguem ouvir ou sentir a vibração da terra”
Um caso chama a atenção. O sobrevivente da tragédia Lieuzo Luiz dos Santos estava acima da barragem e aparece no vídeo que mostra o exato rompimento da terra. Em entrevista à TV Globo, ele relatou não ter ouvido nenhum som anterior ao rompimento. A única coisa que notou foram gados correndo antes que o chão se abrisse.
Segundo Alberts, os animais podem ter sentido que a barragem iria se romper por diversos sentidos – tanto pelo som, causado pelo choque de moléculas dentro da barragem enquanto os rejeitos entravam em liquefação, ou pelo tato, das patas na terra, que pode ter apresentado pequenas movimentações próximas ao local e horário do rompimento que não foram notadas pelos humanos.
Já moradores do Córrego do Feijão dizem ter visto, antes de ouvir o tsunami de lama chegando, um comportamento estranho de cachorros e galinhas. Mais uma vez a audição e o tato também podem ter ajudado os animais a reconhecer o perigo.
“Não temos essa percepção dos animais. Se vivêssemos na natureza o tempo todo, poderíamos perceber algumas dessas coisas”
“A galinha é uma ave, pode ter notado mudança do ar. As massas de ar são deslocadas quando a barragem é rompida. Também podem notar modificações de cheiro. Elas são muito sensíveis e dependem de perceber essas coisas para sobreviver”, aponta o professor da Unesp.
SENTIDOS AJUDAM
Esses sentidos aguçados, inclusive, podem ter ajudado alguns animais a escaparem da tragédia. Entre os sobreviventes, há relatos de famílias que acharam seus cachorros após voltarem à região onde estavam.
“Muitos animais não conseguiram sobreviver, foi muito rápido. Mas alguns, que deveriam estar no caminho da lama, provavelmente escaparam por causa disso”, afirma Carlos Alberts.
O zoólogo cita animais que estavam próximos a rios e riachos como alguns que podem ter notado com antecedência alguma modificação no ambiente pela vibração da água.
Para o especialista, os humanos podem confiar em animais para descobrirem se algum problema no ambiente está a caminho.
“Uma boa atitude ao ver animais correndo é correr também, porque alguma coisa não está certa”
Os animais não erram, eles percebem antes da gente. A gente precisa ver ou estar muito perto, ouvir um som alto. Eles podem estar à distância”, diz Alberts. “Existem fenômenos como tsunamis e outros eventos catastróficos mais raros que fazem os animais se movimentarem de forma estranha.”
Toda essa sensibilidade dos animais vem de anos de evolução dos bichos e da seleção natural.
“Eles estão geralmente em duas condições opostas: ou são presas ou são predadores. Em ambos os casos, a sobrevivência depende de eles descobrirem uns aos outros. Essas percepções são usadas normalmente para sobrevivência, mas em condições diferentes servem para indicar algo. Climatologistas, por exemplo, sabem que moscas agem diferente antes de chuvas. Os animais também notam outros correndo à distância, um estouro de boiada, e passam a correr também”, diz o professor.
ANIMAIS SENTEM TERREMOTOS
Um dos exemplos dessa percepção de animais está no fato deles historicamente estarem ligados à previsão de terremotos, algo que os humanos ainda engatinham para fazer.
Segundo o site oficial do governo norte-americano dedicado a esses fenômenos, a primeira referência a animais se comportando de forma estranha antes de um terremoto significante vem de 373 a.C., na Grécia, envolvendo ratos, cobras, doninhas e centípedes deixando suas casas para lugares seguros dias antes da destruição.
O comportamento diferente dos animais pode variar de semanas a segundos no caso de terremotos. No geral, animais conseguem notar o terremoto segundos antes por serem capazes de sentir uma onda que parte da fonte do terremoto que não é perceptível para humanos. O tema da previsão de terremotos por animais ainda é pesquisado por cientistas e envolto em mistério.
Fonte: Uol
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