Após 70 anos sem a presença da onça-pintada na região, uma fêmea adulta e dois filhotes nascidos em cativeiro voltam a habitar a região do Parque Nacional Iberá, localizado na província de Corrientes, na Argentina. A soltura da família ocorreu na semana passada, após participarem de um longo processo de adaptação para poderem sobreviver na natureza.

A fêmea Mariua e seus dois filhotes nascidos em cativeiro, Karai e Porã, de 4 meses, são os pioneiros da iniciativa que quer restaurar a espécie na região e salvar a onça-pintada do desaparecimento: atualmente, menos de 200 onças-pintadas vivem na Argentina.

O restabelecimento de populações de espécies nativas em áreas onde elas haviam sido extintas é uma das principais ferramentas da conservação para restaurar espécies e ecossistemas. Em Iberá, a reprodução em cativeiro, reabilitação, aclimatação e posterior soltura para povoamento é uma iniciativa da organização Tompkins Conservation, com apoio técnico da Fundação Rewilding Argentina e parceiros locais. A própria criação da unidade de conservação contou com a participação ativa das duas fundações, já que as terras foram compradas pelas instituições e doadas para o governo para que ali se criasse uma área protegida.

O portão do cercado de aclimatação ficou aberto e as três onças puderam seguir rumo à liberdade. Foto: Governo da Argentina.

No Parque, está localizado o Centro de Reintrodução de onças-pintadas, com 9 espécimes sendo preparadas para voltar à natureza. Na segunda-feira (18), o portão da área de cercado da aclimatação permaneceu aberto e a Maiuá e seus filhotes puderam, enfim, sair para viver na área onde seus iguais foram dizimados décadas antes, pela caça e perda de habitat.

“Hoje libertamos três exemplares neste ecossistema único que são os esteros del Iberá e celebramos dois novos nascimentos de outra ninhada numa área onde esta espécie emblemática esteve ausente durante 70 anos”, disse na ocasião o ministro de Meio Ambiente da Argentina, Juan Cabandié.

Apesar do trabalho de repovoamento de onças ainda estar em uma fase inicial, a equipe do parque argentino estima que a iniciativa pode se tornar referência para outras regiões do continente americano.

O Centro de Reintrodução já conseguiu a reprodução em cativeiro de seis filhotes ao todo, contando com Karai e Porã. Os outros quatro deverão também partir até o fim de 2021. As onças adultas serão monitoradas pelo projeto com colar transmissor GPS e VHF.

Restauração completa 

Além da reintrodução de onças, o projeto tem como objetivo reintroduzir a fauna, controlar o número de presas e reequilibrar o ecossistema local. Tamanduás-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), veados-campeiro (Ozotoceros bezoarticus), queixadas (Tayassu pecari) e araras-vermelhas e verdes (Ara chloropterus) são alguns dos outros animais que foram assistidos pelo trabalho de repovoamento local.

O projeto também impactou a economia da região com o aumento das oportunidades de trabalho focado em ecoturismo para os moradores. “As cidades do entorno de Iberá mudaram suas economias e hoje, grande parte do movimento econômico da cidade, de empregos, tem a ver com atividades de ecoturismo baseadas na observação da vida selvagem. Nesse sentido, a onça-pintada é um motor das economias locais porque é uma das espécies icônicas que as pessoas vão querer ver. É um símbolo cultural ”, disse Sebastián Di Martino, diretor de conservação da Fundação Rewilding Argentina, em entrevista ao jornal La Nacion.

Antes de serem liberadas, os animais foram estimuladas a desenvolver habilidades de caça e a acasalarem para se reproduzirem e povoarem os pântanos da região. Foto: Governo da Argentina.

Foto da capa: Tompkins Conservation. A mãe, Mariua, e os seus filhotes de quatro meses nascidos em cativeiro, Karai e Porã.

FONTE: O ECO