Cientistas australianos descobriram que, com o aumento das temperaturas, pássaros com bico maior tendem a ser favorecidos, porque conseguem dissipar melhor o calor – mas alertam que nem todos os animais serão capazes de se adaptar às mudanças climáticas.

Pesquisadores australianos constataram que alguns animais – principalmente pássaros – estão sofrendo mudanças corporais por causa do aquecimento global.

Os cientistas Sara Ryding e Matthew Symonds, da Universidade Deakin, em Melbourne, examinaram, com outros colegas, estudos feitos sobre o corpo de várias espécies ao longo de décadas.

Em uma revisão publicada no dia 7 na “Trends in Ecology & Evolution”, da revista “Cell”, eles concluíram que, com o aumento das temperaturas do planeta, os pássaros que têm bico maior tendem a ser favorecidos, porque conseguem dissipar calor de forma mais eficiente.

Isso porque o bico dos pássaros é vascularizado, ou seja: tem corrente sanguínea. Quanto mais quente fica do lado de fora, mais o animal direciona o fluxo sanguíneo para o bico – para dissipar mais calor. Dessa forma, consegue manter a temperatura corporal estável (como os humanos fazem ao suar).

Por causa desse mecanismo, quanto maior for o bico do pássaro, mais rápido ele consegue se resfriar. Isso significa que os pássaros que têm bico maior conseguem se adaptar melhor ao aumento da temperatura externa.

(Não significa, entretanto, que os pássaros estejam desenvolvendo, “de propósito”, bicos maiores para se adaptar ao calor).

Espécies afetadas

Segundo Ryding e Symonds, as mudanças aparecem em várias espécies de pássaros. Na Austrália, por exemplo, eles apontam estudos anteriores mostrando que o tamanho do bico de cacatuas-de-gangue (Callocephalon fimbriatum) e de papagaios-ruivos (Psephotus haematonotus) aumentou entre 4% e 10% desde 1871.

Na América do Norte, o junco-de-olhos-escuros (Junco hyemalis) mostra uma associação entre o aumento do tamanho do bico e os extremos de temperatura relativa de curto prazo em ambientes tipicamente frios.