Com o objetivo de debater a proteção da fauna no contexto da saúde única, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio da Coordenadoria Estadual de Defesa da Fauna (Cedef) e do Centro de Estudos e Aperfeiçoamentos Funcionais (Ceaf), realizou nos dias 2 e 3 de setembro o Webinário Interações sistêmicas entre a proteção da biodiversidade e a saúde do meio ambiente, dos seres humanos e dos outros animais. O evento foi direcionado a integrantes da instituição, biólogos, comunidade acadêmica e sociedade civil organizada.

Durante a abertura do encontro virtual, que foi realizada pela diretora do Ceaf, procuradora de Justiça Elaine Martins Parise, o presidente do Conselho Regional de Biologia da 4ª Região (CRBio4), Carlos Frederico Loiola, ressaltou a importância da saúde única, que é a conjunção de dois aspectos: o bem estar animal e saúde pública. Ele disse perceber que a sociedade está mais sensibilizada com essa causa, devido à situação atual da pandemia. Loiola citou também o exemplo da peste negra, que deixou cerca de 200 milhões de mortos e foi o primeiro sinal entre a associação entre ser humano, ambiente e animais.

O coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Meio Ambiente do MPMG (Caoma), Carlos Eduardo Ferreira Pinto, destacou a importância da multidisciplinariedade na defesa do meio ambiente. Ele também mencionou os tempos difíceis da atual pandemia e o desequilíbrio na relação dos homens com o meio ambiente. “Embora não haja comprovação ainda da causa da pandemia, sabe-se que há esse desequilíbrio”, afirmou.

A responsável pela Coordenadoria Estadual de Defesa da Fauna do MPMG (Cedef), promotora de Justiça Luciana Imaculada de Paula, mencionou dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação que mostram que, desde a década de 1940, 70% das enfermidades tiveram origem na interação entre homens e animais. “Antes da pandemia, esses dados nos pareciam intangíveis e irreais, mas hoje sabemos como as perspectivas podem impactar e até dizimar a vida humana na Terra”, ressaltou a promotora.

O Painel do primeiro dia do evento discutiu a A perda de biodiversidade e o surgimento de novas pandemias, teve como presidente de mesa a procuradora de Justiça Lilian Maria Ferreira Marotta Moreira e contou com quatro palestras. A conferência de abertura A influência da perda da biodiversidade no surgimento de epidemias e pandemias foi ministrada pelo biólogo, Doutor em Ecologia, analista ambiental da Bicho do Mato Meio Ambiente Ltda, Diogo Loretto Medeiros.

Em seguida, houve a palestra A introdução de espécies exóticas animais, com a promotora de Justiça Luciana Imaculada de Paula e a servidora do MPMG Clarice Gomes Marotta. Logo após, houve a exposição de Fernanda de Souza Sá, Waitá Instituto de Pesquisa e Conservação, sobre A comercialização ilegal e tráfico de animais silvestres e seus riscos para saúde humana. Para finalizar o primeiro dia, José Eugênio Côrtes Figueira, da Universidade Federal de Minas Geral (UFMG), discorreu sobre Incêndios florestais e a perda de habitat dos animais silvestres.

Na conferência de abertura, Diogo Loretto Medeiros expôs crônicas biológicas sobre as conexões entre os homens e a natureza, abordando o contexto da biodiversidade, crises socioambientais passadas, pandemias e epidemias. Durante sua exposição de conteúdo, ele explicou algumas mudanças que ocorreram na biodiversidade. Ele informou que, de acordo com a tese atual de estudiosos, estamos causando a 6ª grande extinção em massa planetária.

O biólogo também esclareceu que cada grande mudança ou crise foi seguida por uma nova era de diversificação com o surgimento de novos organismos. Além disso, ele destacou que as crises ambientais causam e estão intimamente relacionadas às crises sociais, crises sanitárias e epidemias. “Uma está conectada à outra. Às vezes, sem ordem definida”, declarou.

Diogo também apresentou dados sobre epidemias recentes. Segundo esses dados, de 2011 a 2017, houve 1.307 eventos epidêmicos. Além disso, de uma maneira geral, cerca de 60% das doenças infecciosas são causadas ou compartilhadas por patógenos de animais selvagens ou domésticos que estão próximos aos seres humanos. Alguns exemplos dessas doenças: lepstopirose, cisticercose, toxoplasmose, doença de Chagas, Ebola, Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), HIV e Raiva. A Covid, segundo ele demonstrou, é a 8ª maior pandemia da história.

Ele explicou que epidemia é a rápida disseminação de uma doença sobre uma população em um curto período de tempo. Já a pandemia é uma epidemia de doença que se espalha na população de uma grande região geográfica, como um continente ou mesmo um planeta. “Epidemias são muitos frequentes, muito ligadas à biodiversidade, seus padrões de distribuição e funcionamento dos ambientes naturais”, explicou.

O biólogo ressaltou que todas as alterações que provocamos no ambiente são “cicladas” e retornam de alguma forma e as epidemias/pandemias se originam do contato com outras espécies e traz efeitos sérios nas populações.

No segundo dia do evento, houve a realização do painel Aspectos da atuação do MPMG na proteção da biodiversidade, que teve a coordenadora da Cedef, promotora de Justiça Luciana Imaculada de Paula, como presidente de mesa. A primeira palestra do painel foi Aspectos criminais acerca do combate ao tráfico de animais silvestres, ministrada pelo promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda. Na sequência, o procurador de Justiça Antônio Sérgio Rocha de Paula discorreu sobre o Comércio de animais no Mercado Central de Belo Horizonte: a atuação da Procuradoria de Interesses Difusos do MPMG.

A seguir, o tema Rotas do Tráfico de Animais Silvestres em Minas Gerais foi abordado por Flávio Fonseca do Carmo e Luciana Hiromi Yoshino Kamino, do Instituto Pristino. O encerramento ocorreu com a palestra Bioinfra Minas: impactos à biodiversidade da operação de rodovias, ministrada por Alex Bager da Universidade Federal de Lavras (UFLA).

FONTE: MPMG