Após adotar a cadela Belinha em um abrigo para animais, em junho, a estudante Camila Braz notou que o animal apresentava sinais de trauma, desinteresse em brincadeiras e dificuldades sociais. “Eu sempre quis ter um cachorro, mas meus pais nunca deixaram. Mas aí nessa pandemia eu tive um tempo livre e decidi que ia convencê-los. Fiz até uma apresentação em PowerPoint pra eles”, conta ela aos risos. Ela diz que percebeu que Belinha tinha muito medo, mas achou que isso seria passageiro.
Para tentar ajudar na adaptação da cadela, Camila, que cursa engenharia elétrica na UFMG, descobriu um método chamado Enriquecimento Ambiental. Ele consiste em incluir na rotina do animal atividades para estimular o seu desenvolvimento cognitivo e social. “Em vez de você pegar o pote e colocar a ração dentro, pode fazer uma caça ao tesouro, por exemplo. E o cachorro tem que usar o olfato para encontrar a comida. Isso contribui pra autoestima e cognitivamente é uma coisa muito boa, de acordo com o veterinário”.
Entre essas atividades, Camila ficou interessada por uma caixa de brinquedo que se caracteriza pela dinâmica desafio-recompensa. No entanto, a ferramenta era cara e teria de ser importada. A estudante resolveu, então, desenvolver uma versão mais barata e automatizada. “A maioria das coisas eu já tinha em casa. A parte de programação eu tinha porque participei de uma competição pela faculdade. Aí eu bolei uma forma de usar o que eu estava aqui pra fazer o brinquedo”, explica.
Arduíno
O brinquedo é uma caixa com três aberturas, duas nas laterais e uma na parte de cima. Esta última, é onde o cachorro tem que colocar a bolinha. As outras duas são por onde saem o petisco e a bolinha. “A placa chama arduíno e você pode conectar diversos sensores, componentes e programar para fazer o que você quiser. Eu tinha um laser e o que eu fiz foi colocá-lo apontando para um sensor. E ele fica na rampa onde a bola passa, então quando isso acontece, ela impede o laser de chegar ao sensor. Isso avisa o arduíno que é para abrir o compartimento e liberar a ração ou o petisco”, explica.
Camila conta que, no começo, Belinha tinha medo até da bolinha. “Agora ela já tem mais interesse no brinquedo, até porque envolve comida. Ensinar o cachorro a colocar a bolinha no brinquedo é muito difícil. Estamos no processo, mas já estou vendo um avanço muito grande porque ela já não tem mais medo de nenhum brinquedo”.
A estudante montou e programou a caixa em casa, com ajuda da família, durante o período de isolamento social. Ela afirma que desconhece outro produto com essas características e tem recebido mensagens de tutores e ONGs, buscando orientações para a produção do brinquedo.
Camila planeja oferecer tutoriais de confecção da caixa para pessoas que, como ela, precisam de produtos mais acessíveis para auxiliar no desenvolvimento de seus animais.
No vídeo, Camila explica como funciona o brinquedo e mostra como ele tem ajudado na adaptação da Belinha. Assista.
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