Após um período de recuperação, 259 aves e mamíferos foram reintroduzidos à natureza pela equipe do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de Belo Horizonte, por meio de parceria do Instituto Estadual de Florestas (IEF) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Os animais estavam sob a tutela do Cetas após serem reabilitados de situações de tráfico e maus-tratos. A soltura ocorreu no fim de fevereiro.

Entre as espécies reintroduzidas estão o mico-estrela, gambá de orelha branca, corujas sabiás e pássaros menores. A volta das espécies aos biomas ocorreu em Áreas de Soltura de Animais Silvestres (Asas). Os espaços são em propriedades rurais que seguem os critérios determinados pelo IEF e Ibama após levantamento de fauna, caracterização e avaliação da propriedade.

A entrega dos animais à natureza é parte de um processo de recuperação das espécies após darem entrada no Cetas. O veterinário do IEF no Cetas, Thiago Lima, reforça que a maioria dos animais entregues novamente aos espaços naturais foram vítimas de tráfico. “A gente percebe que o tráfico de animais ainda acontece muito. Somente em um mês no ano passado foram 800 filhotes de papagaio apreendidos. Mas também recebemos animais que as pessoas encontram feridos, atropelados”, conta.

O médico explicou que, após chegar ao Cetas, o animal é avaliado para detectar se há algum dano grave à saúde. Depois, os bichos são levados para viveiros onde convivem com animais de espécies diferentes e são alimentados adequadamente. “Depois de um período voltando a se alimentar bem verificamos se o animal está convivendo bem com o grupo, para iniciar o processo de soltura”, reforça.

O tempo em que o animal fica em recuperação no Cetas não é estabelecido e pode variar entre as espécies. “Geralmente os pássaros menores têm um tempo menor no Cetas. Mas um psitacídeo (papagaios, louros), por exemplo, pode demorar até mais de um ano para voltar à natureza”, detalha Lima.

VOLTA À NATUREZA

A soltura dos animais respeita um intervalo de seis meses entre as ações, para evitar uma superpopulação em uma área em específico. Antes de serem soltos, os animais chegam a ficar em viveiros implantados nas áreas de soltura, para que se habituem à região. “A gente verifica se a espécie a ser solta tem frequência na região da ASAS. Depois disso os animais podem ficar de 10 dias a um mês nos viveiros para se aclimatar aos locais, criar referências”, detalha Thiago.

Nos viveiros implantados nas ASAS são abertas, no teto das estruturas, uma espécie de janela para que as aves possam sair e retornar, caso não se adequem à área. Para que a alimentação não seja prejudicada neste período, vasilhames com suplementos específicos às espécies são colocados dentro e fora dos viveiros.

“Nós estamos vivenciando uma síndrome das florestas vazias, que se dá, justamente, pelos animais estarem desaparecendo pela captura irregular. Com a soltura, a gente promove um revigoramento populacional naquela região em que foram soltos, para que os animais possam ocupar os ecossistemas sendo predadores, presas, dispersores de sementes e controladores de pragas”, explicou o veterinário do Cetas.

ASAS

Parceria entre o IEF e o Ibama, as ASAS têm a finalidade de aumentar o número de propriedades rurais propícias a soltura de animais silvestres em Minas Gerais. A parceria identifica terrenos que possuem estrutura adequada para receber os animais. Para isso, são realizados levantamentos de fauna, caracterização e avaliação da propriedade.

A parceria surgiu após a constatação de que a fauna silvestre brasileira vem sendo alvo de todo tipo de agressão praticada pelo homem como o tráfico de animais, desmatamentos, expansão urbana, espécies invasoras, entre outras, há séculos. Tais ações vêm gerando sensível perda de habitats e fragmentação de ecossistemas, acarretando drástico declínio nas populações de animais silvestres em todos os biomas do país e consequente perda da diversidade biológica.

Interessados em cadastrar propriedades rurais para tornarem-se áreas de soltura devem manifestar o interesse no link e, posteriormente, serão escolhidos os espaços que atendem aos requisitos avaliados pelos órgãos. Após a seleção, serão avaliadas as informações fornecidas no formulário e os dados da área quanto ao estado de conservação da vegetação nativa, conectividade e proximidade de adensamentos populacionais, bem como as Unidades de Conservação próximas.

 

Caso a propriedade seja aprovada nas avaliações, uma visita será agendada para realização de vistoria e levantamento das características da área e da avifauna local. Nesta etapa a propriedade será definitivamente aprovada ou indeferida. No caso de aprovação, o proprietário será convidado a assinar um Termo de Compromisso e será solicitado a construção de um viveiro de aclimatação, seguindo as especificações do IEF e do Ibama.

 

Fonte: IEF